Favela Bairro

FAVELA BAIRRO

Comunidade caminho do Job

Pavuna,Rio de Janeiro

Princípios básicos – fundamentações da idéia

A premissa de que a favela é resultado de um estado de pobreza representa o seu efeito – não a sua causa – define o escopo desta proposta.

O potencial do milagre

“Nos núcleos de pobreza existem dois tipos de pessoa: os inconformados com a situação e os acomodados.Os primeiros possuem uma aspiração de transformação de vida e melhoria – e são os que imigram de suas áreas para lugares mais ricos” John Kenneth Galbraith

Isto pode ser constado no grande número de nordestinos existentes nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. Da mesma maneira explica-se como as grandes correntes imigratórias que partiram da Europa para as Américas, no princípio do século contribuíram para o desenvolvimento das cidades onde se instalaram.

Por outro lada, a diminuição da população dessas áreas de origem possibilita, em muitos casos, com apoio institucional, o seu desenvolvimento, decorrente da melhor distribuição das oportunidades então existentes.

A força do trabalho

Constata-se que o homem que chega a uma cidade diversa ao seu meio de origem se propõe a todo tipo de trabalho, e procura conquistar seu lugar por esforço e interesse no aprimoramento de suas novas atividades.

Apesar da existência de diversas formas de aproveitamento de potencias de trabalho,como nos programas de incentivo ás mico empresas (Sebrae), este homem de capital zero e sem terra fica ainda excluído do processo.

O poder autogestor

“Estimular a autogestão não somente como princípio democrático de respeito ao consumidor, mas também como instrumento de redução de custo e aumento de qualidade e satisfação” 91° Cosu

 

Conhecimento do problema 

O homem; poder de sobrevivência

“Como caracterização sócio econômico, a favela é vista como estratégia de sobrevivência para as classes de menor ou nenhum poder aquisitivo .“ O homem esua família representam o cerne da questão – ele procura a favela não como solução mas como refugio.

A moradia :não é apenas habitacional

O repasse da casa pronta mostra que, na maioria dos casos, a planta e a tipologia apresentadas não correspondem ás necessidades a aspiração do morador, que numa primeira fase se propõe a modificar aquilo que recebe.

“O homem quando constrói a sua própria casa, constrói dentro de sua própria escala.”Lê Corbusirer

Alturas impostas , pré estabelecidas em códigos ou normas , quebram a relação do espaço harmônico, compatível com os equipamentos, e servem para destruir o lado subjetivo da beleza e da criatividade – da proporção que se vê das habitações autoconstruidas.

A terra: a taxa de ocupação do solo concentra uma grande população

A favela resulta na conjugação de conjuntos físicos, espaciais, sociais, econômicos e urbanos que pode ser explicada pelo processo histórico de urbanização da cidade.A terra ocupada por uma favela é delimitada, na maioria, em áreas públicas, onde, na forma de invasão, aglomeram-se os barracos.

A urbanização nas áreas de favelas, vem a reboque, atendendo soluções paliativas ou emergenciais

“È conveniente ratificar: o urbanismo convencional se tornou incapaz de resolver os problemas que lhe foram apresentados, porque se converteu em vítima despreparada do choque causado pela velocidade do seu tempo com a do Estado e, mal refeito procurou soluções paliativas e acomodatícias, sem nunca atingir o vértice do problema .” Sérgio Bernardes

A cultura: a favela cria seus códigos

“Apesar das muitas promessas de destruí-las ou melhorá-las, estejam estas vinculadas a um arrazoado autoritário e repressivo ou populista e humanista, as favelas se repõe como solução habitacional dos pobres e dão testemunho da capacidade, criatividade e possibilidade de realização das famílias menos favorecidas .Favelas e favelados estão produzindo cultura, economia e fazem parte da sociedade urbana” Texto Edital

A tipologia: a favela-bairro não deve cair nos moldes normais de “bairros”de casa pronta

“As fachadas uniformes e os interiores dos conjuntos habitacionais dão ás pessoas uma certa inquietude próxima á angustia, ao perceber que todas as casas são semelhantes á sua e que nessas casas novas a sensação de anonimato e neutralidade é difícil de suportar “Faure(1973)

A renda: deve ser orientada para criar meios de trabalho com objetivos de melhorar a família e a habitação

Todo o nosso empenho está na recuperação da renda do homem e de sua família , resultando na estabilização da casa e na transformação da favela bairro.

Metodologia

Baseada em trabalhos semelhantes com população de baixa renda, a metodologia a ser adotada toma como partido a valorização do homem e sua família pela sua força de trabalho e aumento da renda, procurando criar paralelamente um assentamento habitacional onde o desenho urbano seja compatível com a realidade econômica do grupo social em questão.

Não se pode pensar em propor qualquer intervenção numa favela sem levar em contsa que, apesar de seu adensamento e eventuais soluções de crescimento vertical, existem as constantes expansões no seu perímetro, quase sempre em situações de risco ou em áreas insalubres.

O fluxo constante de novos moradores, que chegam do interior em estado precário, ou mesmo de desalojados de outras áreas de favela cria uma das grandes dificuldades quando se quer implantar uma idéia e fazer a necessária avaliação dos seus resultados.

Proposta

Nossa proposta consiste em criar uma área de equilíbrio, casada coma a favela, a ser trabalhada , de modo que uma primeira fase possa ser a opção instantânea de uma parcela da população da favela em busca de uma melhor situação de trabalho.

OPERAÇÃO CASADA

Deste modo, pode-se estimular o dslocamento espontâneo de um percentual da famílias, tendo como decorrência o desadensamento das áreas saturadas, possibilitando assim um reassentamento da população já estabilizada e decidida a permanecer na favela.

Esta comunidade, com o apoio institucional e um processo de autogestão, poderia galgar melhores condições de vida.

O investimento inicial será efetuado na área de equilibrio – Unidade de Vizinhança de Desenvolvimento e Renda (UVDR), localizada próxima a um corredor de circulação, onde juntamos as habitações e o trabalho, voltados para o aumento do poder aquisitivo de sua população.

O principal agente de transferência está no apoio a ser dado ao universo de pessoas existentes na favela que atuam no setor terciário, mas carentes dos meios que possibilitem melhor sua produção – que são em potencialos microempresários de capital zero.

 

Assim, tomando como exemplo uma favela com quinhentas famílias, cinquenta microempresários capital zero funcionarão como agentes da transferência, por autogestão, de duzentas famílias para UVDR, como mostra o desenho a seguir.

A criação de pequenos armazéns, dispostos em áreas fachada, com infra-estrutura de serviços, assistência tecológica, equipamentos e programas financeiros de apoio, denominados.

Favela, um Bairro

No Nordeste, desenvolvemos uma proposta com o mesmo objetivo.   A tentativa da Sudene de fixação do homem na região e de evitar o êxodo rural, através da criação de distritos industriais de médio e grande portes, atendeu parcialmenteo lado social do problema, deixando de lado o potencial dos possíveis microempresários locais, oriundos das populações pobres, e por conseguinte, não aproveitando o grande contingente de mão de obra e empregos resultantes,como indica o quadro anexo.

Como hoje o Sebrae se propõe a incentivar este atendimento para a classe média, acreditamos que a proposta do condomínio industrial, na sua abrangência, poderá abrir novos caminhos.

A UVDR concentra o plano de atividades dentro dos princípios da carta do CIAN – habitar,trab alhar,cultivar o corpo e o espírito – a ser montado num desenho urbano, formado por um núcleo de atividades centralizado na sede da comunidade, reunindo ao seu redor o lazer, comércio,cooperativa da abastecimento, cooperativa de materiais de construção, cooperativa artesanal e o condomínio industrial.

Deve ter como ponto central gestor a associação comunitária que, como apoio das agências de desenvolvimento, atenderá seus objetivos. Como está dito na pesquisa feita por Robert D.Putnam: “A mesma pessoa pode tornar-se mais eficiente e produtiva se está inserida num ambiente social em que há um alto nível de confiança e responsabilidade recíprocas. As sociedades que têm um nível ativo de engajamento cívico, fundado numa estrutura horizontal, ou seja, de colaboração entre iguais, e não vertical, cujas relações são de exploração e dependência, são aquelas nas quais identificam um alto nível de capital social”. Veja, maio/94.

 

A associação comunitária promoverá outros meios de trabalho, renda e minimização de custos, como cooperativas de trabalhos artesanais, de materiais de construção compatíveis com o meio e de abastecimento.   Promoverá também o lazer, incentivando as festividades, a educação e organizando o cadastramento e o assentamento das habitações , instruíndo as pessoas na utilização de procesos construtivos racionais, capazes de serem auto-realizados.

O quadro abaixo mostra a diferença dos processos de construção de casa pronta e a construção na favela.

Pelo visto, pode-se construir na favela a mesma habitação por cerca de um terço do custo, ou seja, atendento a uma faixa de renda um terço inferior à preestabelecida. Nossa proposta é atender aos usuários deste nível em programas oficiais, oferecendo materiais a custo baixo e financiados, processos racionalizados de construção, de modo a possibilitar o “faça você mesmo”.

 

A racionalização, modulação e processos de fabricação colocados na cooperativa de materiais reduzirão os custos e os meios de execução.   As plantas sugeridas, moduladas e a partir de uma unidade embrião oferecem à família a informação e a emulação necessárias ao planejamento da casa e seus parciais de acordo com a sua renda.

Nas unidades habitacionais poderão ainda ser previstos espaços para o exercício de atividades que complementem a renda familiar (pequeno comércio, serviços de cabeleireiro, costura, doceira, etc.).

“Se existir o envolvimento da comunidade, comissões de desenvolvimento e bem-estar serão fortalecidas. Se elas não existirem, assistentes sociais serão responsáveis pela mobilização da comunidade, ajudando a ser consciente de suas necessidades e fazendo sugestões para garantir que, quando uma meta seja alcançada, haja outra mais na frente.