CONCURSO TACARUNA
A proposta de reciclagem da Fábrica Tacaruna para transforma-la num Centro que seja modelo e reflexo da cultura pernambucana exige adequados critérios de valorização do edifício existente assim como de inserção de uma nova arquitetura que o complemente e valorize.
Esta equipe de trabalho considera importante a valorização e a restauração do edifício da Fábrica Tacaruna com um mínimo de intervenção e a construção de um edifício novo que sintetize os valores de cultura local assim como os da arquitetura contemporânea em seus componentes de matéria e espaço; em suas características de racionalidade, versatilidade, funcionalidade, adaptabilidade e pré-fabricação; e em suas qualidades de leveza, transparências e reflexos.
Neste sentido, se propõe um trabalho de restauração cuidadosa no edifício existente, com a localização nele do Centro de Exposições e Interpretação (considerado o uso mais representativo e menos intensivo para a preservação do edifício) e da Administração do Centro Cultural. As atividades mais dinâmicas (Centro de Formação e Documentação e Serviços Externos) se propõem no edifício novo. Entre eles se criou uma praça de eventos articulada em duas áreas mediante um espelho de água, é o elemento que estrutura o conjunto.
O edifício novo está concebido não como um prédio no sentido convencional, mas como um contexto do edifício existente, que o ressalta e valoriza. Sua fachada principal foi concebida como um grande plano refletante ou transparente segundo as incidências luminosas, que reflete o edifício existente e a praça, gerando uma sensação de leveza e certa irrealidade que desmaterializa os limites concretos entre espaços abertos e cobertos, entre arquitetura e paisagem. Um jardim linear criado na fachada do novo edifício, entre sua pele de vidro e sua área coberta, contribui na desmaterialização e integração de arquitetura e paisagem.
Este recurso cria a ilusão de deixar o edifício existente inserido num contexto de natureza artificial. A equipe acha que este modo alternativo de integrar os dois tempos arquitetônicos valoriza o edifício existente ao deixa-lo “incontaminado” de construções próximas.
O paisagismo e a arquitetura estão concebidos como uma unidade indissolúvel.
A proposta paisagística tem como elemento central de composição um grande espelho d’água que liga os dois bueiros, considerados os elementos visuais mais representativos do conjunto fabril. Esta valorização permite criar um novo eixo de articulação entre arquitetura existente e nova, e resolve qualificadamente o acesso ao Centro Cultural desde o estacionamento. O espelho d’água é um retângulo vertical da pele de vidro do edifício novo. Ele contribui a valorizar, refletir, desmaterializar e integrar o edifício existente com a intervenção nova e a fundir arquitetura e paisagismo. A Arena, localizada no espelho d’água, reforça seu caráter de centralidade, congregando em torno dela as atividades externas do Centro Cultural.
Em relação à inserção Urbana, num contexto conformado por grandes edifícios autônomos (Centro de Convenções, Classic Hall, Shopping Tacaruna, Espaço Ciência), o projeto propõe uma nova centralidade na concepção de sua praça central, considerado como um espaço de uso próprio, porém com escala urbana. Sua abertura visual através da área de mangue existente permite a percepção dela a Avenida Agamenon Magalhães.
O sistema de acessos se resolve mediante duas vias que comunicam a Avenida Agamenon Magalhães com a Estrada de Belém, favorecendo a acessibilidade e a conexão entre estas importantes vias estruturadoras do sistema urbano. Os estacionamentos,, localizados atrás do edifício novo, possuem acessos desde essas duas vias.
O edifício projetado para Hotel tem um gabarito que se propõe como arremate do eixo em altura que se constitui ao longo da Avenida Agamenon Magalhães e indicativo de uma renovação urbana que pode acontecer no entorno imediato ao Sul do Centro Cultural Tacaruna. Estas propostas, realizadas como hipóteses de desenho urbano, assim como o desenvolvimento social dos moradores de áreas degradadas do entorno e outras ações necessárias deverão ser discutidas com os organismo competentes e com a visão de um desenvolvimento urbano de longo prazo.
Em relação ao Plano de Massas, a modelagem do conjunto do Centro Cultural Tacaruna contempla o edifício existente, que se preserva isolado do conjunto de galpões e construções anexas que atualmente o rodeiam.
O edifício novo, uma construção unitária e linear, paralela e afastada 50 m do prédio existente e de uma altura constante de 9,00 m, define o espaço da praça de eventos, que concentra todas as atividades externas do Centro Cultural Tacaruna e assume escala urbana.
Como complemento das massas de edificação se consideraram as de vegetação. Ao verde de conformação natural e livre da área de mangue existente, se propõe um contraponto de arborização regular, organizada cada 5 m para complementar a configuração do espaço da praça de eventos. A vegetação tombada é tratada como escultura isolada no centro da praça.
Em relação ao Paisagismo, a composição é feita basicamente com planos, massas e linhas.
Os planos definem um espelho d’água, um tapete de grama e uma parede de vidro, elemento pertencente tanto ao paisagismo quanto à arquitetura no conceito de unificação indissolúvel destas disciplinas.
As massas definem florestas dispostas regularmente nas laterais da praça, em contraponto com a organização natural e livre do mangue e em referência à “floresta de pilares” construída em módulo de 5×5 m no interior da fábrica.
As linhas definem os traçados reguladores das praças (malha de 5×5 m) e fileiras de árvores que compõem a fachada do edifício novo, laterais de ruas internas e complemento da fachada do edifício existente.
Em relação ao Sistema Construtivo, o edifício novo pretende representar certos paradigmas da contemporaneidade em termos de racionalidade, adaptabilidade e facilidade de crescimento. A construção se propõe como uma montagem de peças moduladas e pré-fabricadas. Este conceito sistêmico da construção gera uma grande economia do tempo de obra (aproximadamente 50% em relação aos sistemas construtivos tradicionais) e de custos de materiais (na faixa de 30%).
Além das vantagens econômicas, existem razões conceituais que determinam a eleição de um edifício novo desta natureza; é a analogia com o prédio existente que se pretende valorizar. O edifício projetado atualiza, um século depois, o sistema construtivo utilizado na Fábrica Tacaruna. O novo sistema consiste em uma estrutura de pilares de concreto pré-fabricados, dispostos regularmente em módulos de 5,00 7,50 e 10,00 m e uma coberta de estrutura espacial metálica.
A imagem “neo-fabril” que este sistema possa transmitir é contraposta com um singular e refinado sistema de fachada, consistente em um grande plano de vidro refletivo azulado, que possa acima de um canal de água e possui um sistema de irrigação que permite molhar todo ele do lado interno, gerando situações cambiantes na sua percepção externa. A fachada contém, pôr trás do vidro, uma cortina de árvores, que desmaterializa o edifício, fundindo-o com o paisagismo e criando uma imagem inédita para este projeto. A passagem da ventilação através do vidro e da cortina de água melhora as condições ambientais internas.
Na disposição dos volumes construídos prestou-se especial atenção às suas orientações, colocando-se os mais fechados na orientação Oeste e as áreas que precisam de mais ventilação ao Leste.
Projetou-se coberto a metade do estacionamento, com estrutura em concreto modulada em 5,00 x 5,00 m.
No edifício existente se propõe a restauração integral de seus espaços internos, a retirada das construções adicionais que impedem sua leitura integral original e a valorização do sistema construtivo e de seus componentes em ferro fundido. Se propõe a reutilização das escadas em ferro existentes e um elevador hidráulico que substitua a casa de máquinas existente. É proposto um sistema de ar-condicionado mediante água gelada e fancoils, com shillers localizados nos espaços indicados na planta.